Ensaio sobre a cegueira

Ontem assistimos ao filme "Ensaio sobre a cegueira", baseado na obra de José Saramago. Um filme de impacto, forte, com cenas pesadas, mas muito mais profundo pelas divagações as quais ele nos conduz. Ao final do filme me ocorreu a seguinte pergunta: nossa história não está sofrendo deste mal, desta cegueira branca? Talvez assim como o vírus influenza sofreu uma mutação desde a sua última aparição, há 40 anos, este vírus da "cegueira branca"também tenha evoluido, não enxergamos somente vultos e uma luz branca, porém enxergamos só o lado colorido da vida, só o que queremos ver, agora esta nova epidemia poderia chamar-se "cegueira seletiva". Ao invés de enxergarmos a corrupção dos nossos governantes,vislumbramos e exaltamos somente os nossos jogadores de futebol que fazem sucesso no exterior. Deixamos de ver as crianças pedindo esmolas nas esquinas e nas sinaleiras para darmos audiência ao destino dos filhos órfãos de Michael Jackson, que apesar de órfãos de pai, ainda tem mãe, avós, tias, para olharem por eles, enquanto que os nossos pivetes tem mães, pais, tios e avós para quem trabalhar e a quem prestar contas no final do dia. Nos preocupamos com o número alarmante de pessoas que estão morrendo por causa do H1N1, que retornaram de Bariloche, Estados Unidos, Londres, mas nem sequer sabemos quantas pessoas estão morrendo na rua de fome, frio, diarreia, assassinato. Existe um cemitério se formando a céu aberto e o qual não enxergamos. Falamos em tecnologia, em evolução, em computadores de última geração e nem sequer nos lembramos que para muitos, o progresso é ter uma geladeira em casa. Será que para essa epidemia existe vacina? Será que um dia encontraremos a cura? Sei que este é um espaço para exaltar o amor. Mas não poderia deixar de dividir esta inquietação.